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Depois de dois anos bastante favoráveis em termos hidrológicos, o período úmido que chega ao fim agora em abril foi frustrante para o Operador Nacional do Sistema Elétrico, com uma estação chuvosa que deixou bastante a desejar, na avaliação do diretor-geral da instituição, Luiz Carlos Ciocchi. As chuvas ficaram muito abaixo das médias de longo termo, foi o pior mês de janeiro dos 94 anos de histórico, e os meses de fevereiro e março também estão entre os piores da história.
O ONS não prevê problemas energéticos para 2024, mas há uma grande preocupação com 2025. “Terminamos essa estação chuvosa, mas a próxima estação chuvosa deve começar em novembro, dezembro. Como será? Qual a intensidade? Vai ser forte, fraca, muito abaixo da média de longo termo ?,” questionou o executivo, em entrevista ao CanalEnergia Live desta quinta-feira, 21 de março.
A primeira sinalização de que a operação desse ano deve ser mais prudente, aproveitando a lição da crise hídrica de 2021, foi dada no início de março, quando o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico reduziu as vazões das hidrelétricas de Porto Primavera e Jupiá. As duas usinas são as últimas, ainda na divisa do estado de São Paulo, antes de Itaipu, e tem um papel importante na captação da água que vem desde o Rio Grande, em Minas Gerais, passando pela bacia do Tietê, em São Paulo. “Na medida que eu consigo segurar um pouco essa água eu consigo administrar toda a cascata dali até a usina de Furnas”, explica Ciocchi.
O ONS é obrigado a despachar mensalmente de 4 GW a 5 GW de termelétricas inflexíveis. Antes mesmo do início do período seco, o operador tem utilizado, de forma preventiva, a geração térmica flexível por períodos curtos, para atender a ponta de carga. Com isso, evita que uma redução drástica dos reservatórios das hidrelétricas torne necessário o acionamento de usinas mais caras nos próximos meses.
Confira a entrevista no CE Live
A redução da vazão de outras usinas importantes para o Sistema Interligado, dependendo do comportamento da carga, é uma possibilidade que o operador não descarta sugerir ao CMSE, considerando que as águas têm uso múltiplo.
A estratégia do operador, ao olhar a cascata como um todo, é a preservação de água nos reservatórios de cabeceira, sendo o principal deles o da UHE de Furnas. A usina localizada em Minas é importante na geração de energia elétrica, no atendimento a outros usos da água e, principalmente, para garantir o equilíbrio hídrico, regularizando os reservatórios das hidrelétricas abaixo.
Toda a preparação para o próximo período seco acontece em um momento de término dos mandatos de Ciocchi e dos diretores de Planejamento, Alexandre Zucarato, e de Tecnologia e Assuntos Regulatórios, Marcelo Prais. Todos eles podem ser reconduzidos para um novo mandato, em um processo que vai acontecer agora em abril. Para Ciocchi, que tem de ser indicado pelo governo para permanecer no cargo, a regra do jogo está estabelecida e está “dentro dos conformes.”
“A expectativa nossa é de fecharmos esse ciclo, de uma forma ou de outra, com a a sensação de dever cumprido”, disse o executivo.